Charles precisa de um
pai...
Alguém para levá-lo à feira cultural. Alguém que não tenha
medo de monstros. Alguém que também ame sua mãe e a faça feliz. Mas não será
fácil encontrar o pai perfeito. Por isso, Charles fez uma lista...
...e Nathan preenche
todos os requisitos
Nathan Murphy sabia que um filho como Charles seria o
orgulho de qualquer homem. E a mãe de Charles, Faith, era doce, carinhosa e
irresistível. Seria a esposa perfeita... mas não para ele. Nathan não pretendia
formar uma família de novo. Então, por que era tão difícil afastar-se deles?
CAPÍTULO
I
Faith Reynolds verificou as horas no relógio de pulso.
Estava atrasada para o compromisso.
Soltou ruidosamente o ar pela boca e, apertando o volante
com força, pisou no acelerador, numa tentativa de recuperar o tempo perdido.
Aquele era um dia com gosto de bacon
queimado. No entanto, amanhecera lindo demais. Céu azul, sol brilhante.
Assim que abrira as cortinas do quarto, Faith pensara que algo de maravilhoso
aconteceria num dia como aquele. Isso, porém, fora antes de Charles, seu filho
de seis anos, ter anunciado que queria dizer-lhe "algo de muito importante".
Estavam à mesa de café e Charles
juntava uma colher de cereais ao leite.
— O pai de Billy Wilkins irá à feira
cultural hoje — ele contou, com os olhos castanhos fixos no rosto da mãe.
De repente, o azul do céu tornou-se
mais opaco, o sol menos brilhante. Faith perdeu o apetite. Afagou os cabelos
despenteados do menino.
Com a colher, Charles fazia círculos
na tigela para misturar o leite e os cereais.
— Você
vai, não é, mamãe? Você prometeu. Lembra-se?
Ela concordou com um gesto de cabeça, lutando contra o nó
que se formara em sua garganta. O que mais desejava na vida, era proporcionar
ao filho tudo o que ele necessitava. Mas, não tinha condições de dar-lhe tudo.
— Poderemos convidar Mandy — ela
sugeriu.
Charles largou a colher ancorada nos cereais. Remexeu-se na cadeira.
Charles largou a colher ancorada nos cereais. Remexeu-se na cadeira.
— As babás não combinam com feiras
culturais — afirmou ele com ar sério. — O pai de Scott Miller irá na semana que
vem.
— Entendo. E, você quer levar um pai
também. É isso? — Seria melhor não ignorar a situação.
O menino não respondeu. Imóvel na
cadeira, mordia o lábio, observando-a com olhos vivos, muito atento. Aquele era
o momento que Faith sempre temera. O dia em que seu filho se sentiria
diferente. Excluído.
— Você
acha que encontrará um pai para mim? — ele perguntou num fio de voz.
Não, Faith teve ímpetos de gritar. Um
dia, você também teve um pai, mas ele não nos quis, abandonou-nos. Não posso
correr o risco de expor-nos, a você e a mim, ao mesmo tipo de mágoa e
humilhação.
Claro, jamais poderia dizer tais
coisas ao filho. Empenhara-se para fazer Charles acreditar que fora muito
amado. Na verdade, bem que gostaria de encontrar um pai para ele. Fora
exatamente o que sempre desejara em criança. Um pai para ela mesma. Era hora de
enfrentar os fatos. Nem todos os casamentos eram baseados em sentimentos
arrebatadores. Muitas pessoas se casavam por motivos mais práticos, como interesses
comuns, benefícios mútuos, para garantirem um pai para seus filhos.
— Você acha que terei um pai, mamãe? —
Charles perguntou de novo.
Faith fitou-o longa e intensamente. Esquecera-se da
xícara de café à sua frente.
— Ainda não sei, Charles. Vamos ver.
Olhe, prometo pensar no assunto.
Ambos se calaram, refletindo nas
palavras dela. De repente, voltaram à realidade, trazidos pela fumaça e pelo
inconfundível cheiro de bacon queimado. Faith levantou-se rápido,
tentando salvar o que não tinha mais salvação. Charles correu para abrir a
janela, mas Faith ordenou-lhe que continuasse sentado, enquanto ela cuidava de
tudo.
Era, realmente, um dia com gosto de bacon
queimado. E, a partir de então, só piorara ainda mais.
Girando o volante, Faith entrou numa
alameda tortuosa. Depois de quinze minutos somente com arbustos e
dentes-de-leão, concluiu que errara o caminho.